Poesia
Por Vera Lucia Fávero Margutti
Meus traços de caráter “esculpidos em Carrara”
Meu traço esquizoide poeta só deseja ficar na “caverna”, na criação.
Viajando pelas nuvens prodigiosas da imaginação.
Escrevendo poesias pássaros, poesias flores, voando alto, longe das montanhas frias da rejeição.
Leve e solta
Sozinha
Sem guia ou outra condução,de pijama, sem vaidades, sócriatividade, burilando artes e cultura.
Letras e literatura.
Ouvindo e me deliciando com a perfeita sinfonia dos anjos.
Meu traço oralme obriga a voltar, pousar em terra firme, suar e sustentar.
Me comunicar com terrestres, dividir sentimentos de dor e alegrias, dúvidas, intolerâncias, paixão, ódio,preconceitos, saudade…
No peito o vazio do abandono longínquo, lá na escura fronteira do inconsciente, ascende!
Dói a cada desconfiança e lembrança de abandono, a cada descaso, suspeita ou certeza da indiferença e incompreensão.
Dos que vem e depois se vão.
No recurso salvador da comunicação, o consolo das amizades. Visto meu avental natural do instinto maternal e acalento, medico, solto o canto e o grito.
Enxugo as lágrimas, desato os nós, escrevo, falo, esperneio…
Vivo!
Eis que meu psicopata traço manipulador entra em cena pra conciliar, buscar um acordo, negociar:
– No céu ou na terra? Lá ou aqui? Não funciona mais ganhar bala e pirulito, chocolate ou mero elogio. Ele diz que preciso de prestígio, dinheiro e outros vícios… status, fama, lazer.
Viver!
Sai de cena rápido abafado pelo meu traço masoquista que chega tímido, sorrateiro e cabisbaixo.
Quadrado.
Ao mesmo tempo forte, resistente e armado. Ordeiro e disciplinado.
Sensível e empático.
Desconfiado.
Humilhação nunca mais!
Calada, sem pressa alguma…
A tartaruga é dominada pela ansiedade da coelha.
Meu traço rígido vez ou outra também se impõe impetuoso.
E o eu felina sedutora, vibra e acende a chama do amor.
O perfeccionismo e a vaidade duram pouco sucumbidos pelo vazio existencial arrebatador.
Bem lá no fundo do peito oco, uma voz anuncia e pede a comida milagrosa do carinho, atenção, afeto, amor, companhia.
Sabotei por décadas essas carências com massas e doces, guloseimas da irresistível gastronomia gorda.
Meu corpo hojerejeita e a balança geme ao pequeno sinal de sobrepeso.
Hora de voltar para a caverna?
Hora de fazer as pazes entre corpo e mente.
Hora da ressignificação.
Reich, por favor! Explique direito esse turbilhão.
